sábado, 5 de março de 2011

Amar é para poucos


Amar é um privilégio de poucos. Exige dedicação e maturidade
Engana-se quem pensa que o amor é um evento espontâneo. Trata-se de uma escolha. E dá trabalho. Mas ter amor por alguém, e conseqüentemente o desejo de fazer o melhor por essa pessoa, é uma oportunidade de superar limites e de evoluir, uma aventura cheia de desafios que nos leva ao que existe de mais belo e profundo na experiência humana.

É comum as pessoas confundirem atos de controle, desejo, ciúme, apego, paixão e até de ansiedade com atos de amor. Essa confusão está na raiz dos problemas que em geral as mobilizam a buscar atendimento psicológico. Não pretendo entrar nos detalhes dessa discussão. Também não tenho a intenção de definir o sentimento. Já deixei claro em textos que publiquei nesta revista que não acredito que seja possível defini-lo. Não creio que as palavras tenham alcance para tal. Mas minha prática clínica indica que é muito importante explicar, deixar claro para as pessoas o que são atos de amor.

Partilho da crença de teóricos como o psicólogo e psiquiatra norteamericano M. S. Peck segundo a qual o ato de amar é fundamental para nossa evolução. Amar implica superar-se, ampliar os próprios limites. Ser capaz de amar é por si só um salto em evolução. Ao buscarmos o crescimento de nosso parceiro, ampliamos nossos limites e também evoluímos. Mas isso não ocorre naturalmente. Requer esforço.

Quando amamos alguém, nosso amor só se torna demonstrável, ou real, por meio de nosso esforço. O amor por nosso parceiro e o desejo de fazer o melhor por ele nos dão a oportunidade de superar limites e barreiras que estão apenas em nossa cabeça. Por amor abandonamos crenças limitantes e conseguimos fazer o que não acreditávamos que fôssemos capazes.

Amar implica esforço sim, entretanto, uma vez que a opção tenha sido feita, precisamos iniciar a jornada, como uma aventura que foi planejada e acalentada com entusiasmo. Uma aventura cheia de desafios, de situações envolventes que vão nos ensinar a reconhecer e usufruir o que há de mais belo, instigante e profundo na experiência humana. Uma aventura em que a cada dia temos a possibilidade de mergulhar na alma do outro e sair de lá enriquecidos, prontos para ser desbravados por ele. Ao amar buscamos entender o outro a ponto de mergulhar em sua alma. Essa façanha exige de nós habilidades desconhecidas de nós mesmos. Em resumo, amar é para poucos, coisa de gente grande.


(Rosa Avello é psicoterapeuta e psicodramatista com especialização em sexualidade)

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