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"A temperança é muito próxima da humildade. É o contrário do fastio ou o que leva a ele, não se trata de desfrutar menos, mas de desfrutar melhor. Temperança é moderação, Spinoza diz que o homem sábio serve em sua refeição, alimentos e bebidas agradáveis para serem consumidos em quantidades moderadas como o perfume, o adorno, a música, os jogos que exercitam o corpo, coisas que cada um pode fazer uso sem causar prejuízo pra outrem. Ninguém é feliz na insatisfaçao; ninguém é satisfeito quando os desejos não têm limites. Ser temperante é poder contentar-se com pouco, mas o pouco é o que menos importa e sim o poder e o contentamento. Foucault, chamava de preocupação consigo: virtude ética, muito mais que moral. Pobre Dom Juan que necessita de tantas mulheres e pobre alcoólatra que necessita beber tanto. O corpo não é insaciável, a ilimitação dos desejos que nos condena à falta, a não poder nos contentar nem mesmo com os excessos: doença da imaginação. O que há de mais sinistro do que um glutão empanturrado? O sábio estabelece limites para o seu desejo, bem como para o seu temor. O objetivo do sábio é próximo do essencial. E quem sabe se contentar com o necessário? O sábio talvez. O prazer está sempre presente na vida do temperante, mesmo nas situaçoes mais adversas. O melhor, não o mais é que o atrai. A temperança tem por objeto os desejos mais necessários à vida do indivíduo (beber e comer) e da espécie (fazer amor)que são também os mais fortes, portanto os mais difíceis de dominar. Não se trata de suprimi-los, mas de controlá-los, regrá-los, mantê-los em equilíbrio. A temperança é uma regulação voluntária da pulsão da vida, uma afirmação sadia de nosso poder de existir."]
Pequeno tratado das grandes virtudes (Sponville) - Temperança
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